Literatura Portuguesa
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A l�rica galego-portuguesa
Entre os s�culos XII e XIV, foi sobretudo not�vel a escola trovadoresca galego-portuguesa, reflexo n�o s� do ambiente da corte como tamb�m de outros grupos sociais e outras viv�ncias. Cultivavam-se as cantigas de amigo, de amor e de esc�rnio e mal-dizer. Se nos dois �ltimos casos a influ�ncia proven�al � n�tida, j� nas cantigas de amigo a quest�o das origens � mais complexa, pensando-se que ter�o como base mon�logos e cantares aut�ctones anteriores a essa influ�ncia. Estas composi��es foram reunidas em cancioneiros, de que se conservam hoje o Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Vaticana e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional. N�o foram s� os poetas galegos e portugueses que pertenceram a esta escola; tamb�m leoneses e castelhanos compuseram em galego-portugu�s. Destes, o mais not�vel foi sem d�vida Afonso X, o S�bio, a quem se devem as composi��es religiosas reunidas sob o t�tulo Cantigas de Santa Maria. Nomes significativos do lirismo galego-portugu�s foram o rei portugu�s D. Dinis, Jo�o Zorro, Jo�o Garcia de Guilhade, Martim C�dax e Nuno Fernandes Torneol, entre muitos outros.
A historiografia medieval
Simultaneamente, desenvolveu-se uma tradi��o historiogr�fica representada pelos livros de linhagens (dois deles da responsabilidade de D. Pedro, conde de Barcelos), registos geneal�gicos das fam�lias nobres que inclu�am epis�dios narrativos, e por v�rias cr�nicas peninsulares, como a Cr�nica Geral de 1344, de que se conhece apenas a vers�o castelhana. Esta historiografia foi tamb�m estimulada pela corte de Afonso X, grande centro cultural da �poca. J� na referida Cr�nica Geral, assim como na IV Cr�nica Breve de Santa Cruz, surgem relatos lend�rios sobre D. Afonso Henriques, marcando um sentimento nacional que seria retomado e ampliado na historiografia de outros per�odos.
A prosa narrativa de fic��o
Mais tardio foi o surgimento da prosa de fic��o, com vest�gios nos livros de linhagens, mas que teve a sua grande forma na novela de cavalaria, e nomeadamente na chamada �mat�ria de Bretanha� (hist�rias cavaleirescas criadas em torno da corte do rei Artur e da demanda do Santo Graal). O mais antigo texto portugu�s de prosa narrativa que se conhece � uma tradu��o da Demanda do Santo Graal (XV). O Amadis de Gaula, tamb�m ligado a este ciclo e muito popular por toda a Idade M�dia, � de autoria duvidosa, n�o se sabendo se � um original portugu�s ou castelhano.
Quanto ao teatro, conhecem-se deste per�odo apenas representa��es populares de v�rios g�neros, na base de formas teatrais que se desenvolveram mais tarde.
A revolu��o de 1383-1385 e a nova historiografia
A revolu��o de 1383-1385, inaugurando uma nova fase hist�rica do pa�s, trouxe tamb�m um historiador e prosador que deu voz � consci�ncia pol�tica e social nacional, marcando uma autonomiza��o da literatura portuguesa face � galega. Fern�o Lopes, primeiro cronista geral do reino (cr�nicas de D. Pedro, D. Fernando e D. Jo�o I), inaugurou uma nova concep��o da realidade hist�rica, plenamente consciente do papel dos grupos populares nas transforma��es do reino, aliada a um estilo de grande valor art�stico e a uma grande preocupa��o de investiga��o e rigor hist�rico. Historiadores posteriores, como Gomes Eanes de Zurara e Rui Pina, recuperaram uma perspectiva hist�rica basicamente senhorial.
A prosa doutrinal da corte de Avis
A dinastia de Avis impulsionou ainda o gosto pela prosa doutrin�ria destinada � educa��o f�sica e espiritual da nobreza, de que s�o exemplo o Livro de Montaria, de D. Jo�o I, o Tratado da Virtuosa Benfeitoria, do pr�ncipe D. Pedro, e a Ensinan�a de Bem Cavalgar Toda a Sela e o Leal Conselheiro, do rei D. Duarte.
A l�rica palaciana
Quanto � l�rica deste per�odo, conserva-se hoje o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (1516), colect�nea de composi��es po�ticas das cortes de D. Afonso V, D. Jo�o II e D. Manuel, cujo ambiente l�dico, galante e aristocrata as composi��es t�o bem reflectem, e nas quais convergem a tradi��o amorosa da l�rica galego-portuguesa e as influ�ncias italianas de Petrarca e Dante.
Ll�rica religiosa e hagiografia
Simultaneamente, a literatura m�stica e hagiogr�fica que se desenvolvera j� na Idade M�dia, geralmente em latim, prosseguiu agora em portugu�s, nos trabalhos dos mosteiros de Alcoba�a e Santa Cruz de Coimbra. Para al�m das vidas de santos e de outras obras de car�cter pedag�gico e moral, destacam-se os textos po�ticos de Andr� Dias.
Esta mesma tradi��o religiosa est� ligada a representa��es dram�ticas que tinham lugar em conventos e na corte, sobretudo em comemora��es do calend�rio lit�rgico.
O Renascimento
Entretanto, as grandes transforma��es europeias que levaram ao Renascimento e � afirma��o do humanismo reflectiram-se na literatura portuguesa a v�rios n�veis e com intensidade diferente. O incentivo dos estudos filos�ficos e liter�rios, muitas vezes sob impulso da coroa, dentro e fora do pa�s, e a maior facilidade de divulga��o do livro, dado o desenvolvimento da imprensa (e embora os livros fossem dirigidos a poucos, muitas obras circulavam como literatura de cordel), foram factores igualmente determinantes da nova literatura. O humanismo foi, tamb�m, ponto de partida para obras de car�cter filol�gico (dicion�rios, gram�ticas, estudos). Simultaneamente, o envolvimento de Portugal nos descobrimentos levou ao desabrochar de uma cultura cient�fica com reflexos em textos de Duarte Pacheco Pereira, Pedro Nunes, D. Jo�o de Castro ou Garcia de Orta. A n�o esquecer tamb�m, e pelo que implicou de trav�o ao desenvolvimento da cultura humanista, � o surgimento da Inquisi��o, cujo primeiro �ndice de livros proibidos saiu em 1547. Autores portugueses que vieram a ter obras proibidas foram, entre outros, Gil Vicente, Bernardim Ribeiro e Ant�nio Ferreira.
Escritores de transi��o
Personalidade fundamental e sintom�tica de uma fase de transi��o, j� no s�culo XVI, foi Gil Vicente, poeta e dramaturgo, cuja produ��o remata a tradi��o medieval do teatro religioso e v�rios tipos de representa��o popular e indicia j� problem�ticas pr�ximas do humanismo. Nos v�rios g�neros que cultivou autos de moralidade, farsas, autos pastoris, alegorias, etc. , revelou-se um satirizador de costumes e tipos humanos e, simultaneamente, assumiu posi��es pol�micas no respeitante aos debates em torno da f� que determinavam as lutas religiosas deste per�odo hist�rico. Entre as suas obras-primas encontram-se os Autos das Barcas, Auto da Alma, Farsa de In�s Pereira e Auto da �ndia.
A obra de Bernardim Ribeiro, poeta e novelista, funde igualmente aspectos medievais (tradi��o cavaleiresca) e renascentistas. Representado no Cancioneiro Geral por uma l�rica de estrutura tradicional, celebrizou-se com Menina e Mo�a (1554), obra na linha da novela sentimental do italiano Bocaccio, de ambiente buc�lico e cavaleiresco, e de admir�vel profundidade e subtileza psicol�gicas. A sua influ�ncia foi profunda na posterior literatura portuguesa, marcando um fundo sentimental recuperado por escolas muito posteriores, como os rom�nticos e os saudosistas.
Outro exemplo da fus�o entre medievalismo e modernidade s�o ainda as novelas de cavalaria, como a Cr�nica do Imperador Clarimundo (1522), de Jo�o de Barros e o Palmeirim de Inglaterra (1567), de Francisco de Morais.
Doutrina��o e pr�tica da nova literatura
Os novos c�nones liter�rios do Renascimento encontraram um doutrinador e inovador, em Portugal, em S� de Miranda, que contactou em It�lia com os modelos est�ticos e as novas formas po�ticas (�clogas, elegias, sonetos, can��es). Devem-se-lhe ainda as primeiras com�dias em estilo cl�ssico.
O exemplo mais acabado de um cultor desta nova poesia de raiz italiana foi Ant�nio Ferreira, que representou de forma completa, sobretudo nas cartas, os valores consagrados pelo humanismo e a sua express�o liter�ria. Mas foi sobretudo � trag�dia A Castro (1587) que ficou ligado o seu nome introdu��o da trag�dia cl�ssica e do verso branco em Portugal, adaptando-a a um tema aut�ctone.
A l�rica de Lu�s de Cam�es
Lu�s de Cam�es atesta a imperfeita concretiza��o dos c�nones liter�rios do Renascimento em Portugal: aproveita elementos da tradi��o l�rica portuguesa, renovando-a, e, nos g�neros de inspira��o italiana, como o soneto ou a can��o, conjuga renascentismo e maneirismo, num tom pessoal inconfund�vel. Alguns dos motivos dos seus poemas, como a m� sorte, o desconcerto do mundo ou o car�cter contradit�rio do sentimento amoroso, se n�o surgiram com ele, passaram a fazer desde Cam�es parte do patrim�nio cultural e l�rico portugu�s, de forma mais intensa no per�odo barroco, mas tamb�m presente em muitas outras �pocas.
A literatura dos descobrimentos
A tem�tica dos descobrimentos inspirou a Cam�es Os Lus�adas, grande �pica do reino portugu�s. Poema de exalta��o dos feitos e her�is da p�tria, nele se conjugam a tradi��o e o esp�rito de cruzada medievais com a forma liter�ria cl�ssica (a epopeia) e a mitologia greco-romana de influ�ncia renascentista. Para al�m do valor liter�rio da obra, � de salientar a sua import�ncia na literatura e na cultura posteriores do pa�s: originou, na �poca, um surto de poesia �pica de valor inferior e as suas repercuss�es posteriores (bem como as da restante obra de Cam�es) s�o incomensur�veis.
A tem�tica dos descobrimentos inspirou, de maneira bem diversa, uma literatura de viagens de grande import�ncia. Dos contactos com os territ�rios at� ent�o desconhecidos dos europeus e com a alteridade representada pelos outros povos, resultaram textos como a Carta do Descobrimento do Brasil (1501), de P�ro Vaz de Caminha, a Verdadeira Informa��o das Terras do Prestes Jo�o (1540), de Francisco �lvares, as Cartas do Jap�o, correspond�ncia de mission�rios jesu�tas naquele pa�s, e a Peregrina��o (publicada em 1614), de Fern�o Mendes Pinto. Destaca-se destas obras, de inten��o e valor liter�rio desiguais, a �ltima, pela vivacidade com que retrata o exotismo e pelo esp�rito p�caro, inventivo e cr�tico que faz com que Mendes Pinto, mais do que relatar a sua vida atribulada por terras do oriente, tenha criado, ou recriado, situa��es que n�o viveu e que lhe permitiram compor quadros deslumbrantes ou confrontar os europeus e os outros povos, desmascarando e satirizando a pretensa superioridade dos primeiros. Igualmente significativa � a Hist�ria Tr�gico-Mar�tima, conjunto de relatos de viagens que inclui epis�dios dram�ticos da expans�o, como os naufr�gios.
Historiografia renascentista
Podem distinguir-se duas vertentes principais: uma, mais aristocr�tica e apolog�tica das grandezas de Portugal, representada por Jo�o de Barros, autor das D�cadas, e outra, muitas vezes da autoria de escritores que tinham experi�ncia da vida no ultramar, e que frequentemente desagradou a nobres que viam ser posto em causa o valor dos seus feitos e dos dos seus antepassados. Desta �ltima foram cultores Fern�o Lopes de Castanheda (Hist�ria do Descobrimento e Conquista da �ndia pelos Portugueses) e Diogo do Couto (D�cadas e Di�logo do Soldado Pr�tico). Outro historiador de import�ncia foi Dami�o de G�is, que deixou nas suas obras um conhecimento do mundo e uma intensidade dos valores humanistas que o tornaram um dos mais importantes representantes do humanismo portugu�s.
A literatura m�stica e espiritual
O s�culo XVI foi ainda fortemente marcado por uma corrente de literatura m�stica, de que s�o exemplo Imagem da Vida Crist�, de frei Heitor Pinto, Di�logos, de frei Amador Arrais, Os Trabalhos de Jesus, de frei Tom� de Jesus, e Consola��o �s Tribula��es de Israel, de Samuel Usque, esta de inspira��o judaica.
As condi��es da literatura ap�s 1580
A perda da independ�ncia nacional, em 1580, teve consequ�ncias importantes na literatura portuguesa, uma vez que a corte de Lisboa, que era o grande centro pol�tico e cultural, desapareceu. Assim sendo, muitos escritores refugiaram-se em pa�os senhoriais de prov�ncia ou em Madrid, ou ainda em ordens religiosas. O bilinguismo, que j� antes era corrente, acentuou-se. Dominou, neste per�odo, a literatura devota e hist�rica produzida em ambiente conventual, para o que a Contra-Reforma, recuperando a escol�stica, muito contribuiu.
A historiografia alcobacense
S�o de destacar, pela sua import�ncia e quantidade, as obras hagiogr�ficas e a historiografia, principalmente do mosteiro de Alcoba�a. Esta �ltima � de extrema import�ncia, na medida em que foi frequentemente ve�culo da justifica��o da exist�ncia de Portugal como pa�s aut�nomo da Espanha. Neste �mbito se insere a Monarquia Lusitana, iniciada por frei Bernardo de Brito, em que � j� manifesta a tend�ncia para romancear, enriquecendo o texto hist�rico com numerosas narra��es e enredos de natureza mitol�gica, fant�stica ou cavaleiresca, atestando a falta de uma investiga��o hist�rica rigorosa.
A l�rica maneirista e barroca
Em finais do s�culo XVI e princ�pios do s�culo XVII, a poesia ib�rica, em geral, acentuou o seu car�cter maneirista (j� vis�vel em Cam�es) por oposi��o a um classicismo renascentista que teve, em Portugal, poucos cultores. Ao sentimento do equil�brio cl�ssico sobrep�s-se o de um certo pessimismo perante o desconcerto da vida humana (tema recorrente em Cam�es), que levou, por vezes, a uma busca de reden��o em Deus, originando uma l�rica de ren�ncia aos valores terrenos. Por outro lado, na l�rica amorosa foi Petrarca quem mais influenciou este per�odo.
Prenunciando j� o barroco encontra-se Francisco Rodrigues Lobo: � de sua autoria A Corte na Aldeia (1619), nost�lgica em rela��o ao per�odo de ouro da corte portuguesa. Defendendo a l�ngua nacional, procurava incentivar a actividade liter�ria dos pa�os senhoriais de prov�ncia. Teorizam-se j� o cultismo e o conceptismo pr�prios da literatura barroca.
O barroco atinge a maturidade, em Portugal, a partir da restaura��o da independ�ncia. Os temas da nova literatura eram discutidos em academias rec�m-fundadas (como a Academia dos Generosos). Internacionalmente, G�ngora foi o grande mentor desta corrente. A l�rica, marcada pelo cultismo e pelo conceptismo, ficou recolhida em dois cancioneiros a F�nix Renascida (1728) e o Postilh�o de Apolo (1761) colect�neas de poemas t�picos desta escola, exerc�cios de mestria de estilo e po�tica, servidos por uma linguagem faustosa e exuberante. Muitos s�o sat�ricos e, na generalidade, reflectem o ambiente l�dico da corte, os passatempos das academias e os concursos que estiveram na sua origem. Destes poetas barrocos, s�o de reter os nomes de Jer�nimo Ba�a, D. Francisco Manuel de Melo, frei Ant�nio das Chagas e s�ror Violante do C�u.
A prosa barroca
Neste per�odo teve grande sucesso o bucolismo, cultivado por Rodrigues Lobo (grande �xito de Primavera, 1601), que se acentuou com o per�odo de maturidade do barroco.
Personalidade t�pica da prosa barroca foi D. Francisco Manuel de Melo, que escreveu tanto em portugu�s como em castelhano, cultivando um grande n�mero de g�neros. S�o dele, entre outras obras, a Carta de Guia de Casados, o Hospital das Letras e um conjunto de cinco Epan�foras de inten��o hist�rica.
No entanto, foi a prosa religiosa, de car�cter doutrin�rio, que dominou mais profundamente o barroco portugu�s. Exemplos s�o as obras de frei Ant�nio das Chagas (Cartas Espirituais, 1684-1687) e do Padre Manuel Bernardes (Exerc�cios Espirituais, 1706). Mas foi o padre Ant�nio Vieira quem deixou a obra mais vasta e significativa. Considerado geralmente o grande prosador do barroco portugu�s, escreveu serm�es, cartas, op�sculos religiosos e outros textos, marcados geralmente por uma forte inten��o interventiva nos problemas do seu tempo (organiza��o do poder econ�mico, trato com os ind�genas brasileiros), servidos por um estilo orat�rio de grande qualidade liter�ria. Aspecto fundamental na sua obra foi a utopia de um Quinto Imp�rio portugu�s, na sequ�ncia de outros escritos ligados a um messianismo nacional e aproveitando as Trovas do Bandarra, e que viria a ter ecos posteriores.Obra peculiar, e de cuja autoria n�o h� certeza, sendo atribu�da � freira portuguesa Mariana Alcoforado, � Lettres Portugaises (1669, edi��o francesa), cujos efeitos na sensibilidade europeia, dado o seu poder sentimental e psicol�gico, tiveram import�ncia na forma��o do romantismo.
A historiografia barroca e a literatura panflet�ria
Durante o per�odo de uni�o com Espanha, desenvolveu-se uma literatura, oral e escrita, de oposi��o � monarquia espanhola, que se manifestou em v�rios g�neros. Dela se destacam textos panflet�rios, geralmente an�nimos e que se prolongaram mesmo ap�s a Restaura��o. Em 1603 foram publicadas as Trovas do Bandarra; em conjunto com obras historiogr�ficas, sobretudo do mosteiro de Alcoba�a, estas vieram a constituir um esp�lio importante na forma��o de uma tradi��o liter�ria que associa a nacionalidade portuguesa a uma interven��o divina, recuperando lendas como a apari��o de Cristo a D. Afonso Henriques, em Ourique. Ap�s a Restaura��o, acentuou-se a vertente cr�tica em obras como as Monstruosidades do Tempo e da Fortuna e a Arte de Furtar, den�ncias da corrup��o da nobreza.
O teatro barroco
O desenvolvimento de p�tios da com�dia e a constru��o do P�tio das Arcas (1591), edif�cio destinado � realiza��o de espect�culos, permitiu a actua��o de grupos teatrais espanh�is e a apresenta��o de pe�as de autores portugueses. Deste teatro, fortemente influenciado pelo apogeu do teatro espanhol, em que se fundiam a com�dia cl�ssica e g�neros e temas tradicionais, destaca-se D. Francisco Manuel de Melo com Auto do Fidalgo Aprendiz (1665), de tom patri�tico e denotando influ�ncia do teatro vicentino.
O teatro barroco esteve, por outro lado, ligado ao melodrama italiano (forma oper�tica). O mais c�lebre dos autores desta corrente foi Ant�nio Jos� da Silva, o Judeu, autor de ��peras de bonecos� (que substitu�am os actores) representadas no Teatro do Bairro Alto. Autor de v�rias com�dias e farsas (Guerras do Alecrim e da Manjerona, por exemplo), teve grande sucesso, circulando algumas das cenas das suas pe�as separadamente, como literatura de cordel.
Importante tamb�m foi o teatro religioso, ligado sobretudo aos jesu�tas, de estilo faustoso e apolog�tico, grandioso, de cujos autores s�o exemplo o padre Lu�s da Cruz e o padre Fernandes.
Iluminismo: os estrangeirados
O s�culo XVIII introduziu no mundo cultural portugu�s alguns elementos que levariam ao Iluminismo. Fundamental foi a ac��o dos estrangeirados, que, ao defenderem a nova mentalidade, de que se fizeram doutrin�rios, criaram condi��es para o desenvolvimento de uma nova escola liter�ria.
Lu�s Ant�nio Verney exp�s, no seu Verdadeiro M�todo de Estudar, algumas ideias sobre po�tica e ret�rica que iam abertamente contra a literatura barroca. O per�odo do iluminismo foi, ali�s, de grande trabalho na cr�tica e revis�o da literatura portuguesa at� � �poca. Francisco Xavier de Oliveira, o Cavaleiro de Oliveira, deixou as Cartas Familiares, obra com observa��es sobre v�rios aspectos da vida portuguesa. A ascens�o econ�mica e pol�tica da burguesia e o incremento da actividade cient�fica promoveram tamb�m o novo esp�rito racionalista, iluminista, que levou � literatura neocl�ssica.
As Academias e a l�rica arc�dica
Em 1748, C�ndido Lusitano (Francisco Jos� Freire) publicou a Arte Po�tica, ou Regras da Verdadeira Poesia, que se constituiu como a primeira verdadeira doutrina��o liter�ria deste per�odo; em 1756 foi fundada a Arc�dia Lusitana, de que fizeram parte Cruz e Silva, Correia Gar��o, Reis Quita e Francisco Jos� Freire, entre outros. Agremia��es semelhantes foram surgindo, sendo elas os grandes focos de cultura liter�ria, a par dos sal�es liter�rios. Esta poesia ficou muito marcada por um esfor�o de teoriza��o. Uma das grandes figuras da Arc�dia foi Nicolau Tolentino, pela sua s�tira mordaz do quotidiano portugu�s e dos seus tipos humanos.
O teatro neocl�ssico
A �pera italiana e g�neros a ela ligados tiveram muito �xito, embora os �rcades procurassem desenvolver um teatro moral, de inten��o c�vica, e hostilizar a com�dia espanhola. A trag�dia, nomeadamente, era vista como forma ideal de representa��o dos ideais iluministas, e a com�dia, como cr�tica de costumes, mas as tentativas dos escritores da �poca n�o tiveram grande valor liter�rio, predominando as adapta��es e as tradu��es de textos estrangeiros.
Transi��o entre neoclassicismo e romantismo
Nesta situa��o de transi��o encontram-se Filinto El�sio, Jos� Anast�cio da Cunha, a marquesa de Alorna (figura importante na dinamiza��o da vida cultural da �poca, atrav�s do sal�o liter�rio que organizava em sua casa) e, sobretudo, Bocage, que marcou o confluir do neoclassicismo e do romantismo. Rom�ntico por temperamento, pela profunda consci�ncia pessoal de que d� mostras, aliada a um sentimento f�nebre, o seu estilo encontra-se ainda marcado por recursos arc�dicos. A par do acolhecimento dado � sua arte versificat�ria, � de destacar a popularidade de que veio a gozar como poeta sat�rico e c�mico.
A introdu��o do romantismo em Portugal
Considera-se, geralmente, que foi Almeida Garrett, escritor de forma��o arc�dica, quem, em 1825, com o seu poema Cam�es, deu in�cio ao romantismo portugu�s. O seu ex�lio pol�tico em Inglaterra colocou-o em contacto com o romantismo ingl�s, que muito o influenciou. A ac��o de Garrett como escritor, pol�tico e homem de cultura foi fundamental na renova��o liter�ria do pa�s, quer na prosa (Viagens na Minha Terra, 1843, a primeira novela moderna portuguesa), quer na poesia (Flores sem Fruto, Folhas Ca�das), quer no teatro, devendo-se-lhe, a par da c�lebre pe�a Frei Lu�s de Sousa (obra maior do teatro rom�ntico e pioneira do drama hist�rico portugu�s) todo um trabalho de forma��o de uma dramaturgia portuguesa, criando para tal o Teatro Nacional (Teatro D. Maria II). Caracteristicamente rom�ntico foi tamb�m o seu interesse pela cultura popular, recolhendo o patrim�nio liter�rio tradicional no Romanceiro.
Outro autor rom�ntico, influenciado pelas escolas francesa e alem�, foi Alexandre Herculano, a quem se deve a introdu��o de um g�nero fundamental no romantismo portugu�s o romance hist�rico, com obras como Eurico, o Presb�tero (1843) e O Monge de Cister (1841). Herculano foi simultaneamente, como homem p�blico e historiador, uma figura da maior import�ncia na defesa de uma perspectiva hist�rica que tivesse em conta as institui��es e as ideias na evolu��o do pa�s, e n�o apenas os grandes nomes de reis e her�is. Como poeta, os seus textos reflectem o momento hist�rico das guerras liberais, em que participou activamente.
A actividade jornal�stica
Neste per�odo rom�ntico, desenvolveu-se grandemente o jornalismo, ve�culo de agita��o e confronto de ideias face � conturba��o pol�tica da �poca, e a que se dedicaram, entre outros, Herculano e Garrett.
Evolu��es do romantismo
A poesia do romantismo recuperou as caracter�sticas da l�rica tradicional (numa fase inicial, sobretudo medieval). Algumas revistas vieram a assumir-se como focos de produ��o po�tica, como O Trovador (1844). Muitos dos seus colaboradores assumiram posi��es pol�ticas marcadas, em quest�es nacionais e internacionais. Grande parte desses poemas acabou por cair em convencionalismos e sentimentalismos folcl�ricos que culminaram no chamado ultra-romantismo. Ant�nio Feliciano de Castilho viria a ter um papel preponderante como mentor e �padrinho� dessa gera��o ultra-rom�ntica.
Quanto ao teatro, e ap�s o papel pioneiro de Garrett, desenvolveu-se sobretudo o drama hist�rico melodram�tico, inspirado por in�meras tradu��es e de ambiente negro, de terror. Tamb�m o romance hist�rico teve continuadores.
Com o tempo, novos g�neros surgiram que, ainda dentro do romantismo, tinham uma preocupa��o social actualizada, em certos casos precursora do realismo, ligada �s inten��es do momento pol�tico da Regenera��o. De entre esses escritores, destacam-se Lopes de Mendon�a e Latino Coelho, doutrin�rios e activos como jornalistas, e ainda Soares dos Passos, ligado � revista O Novo Trovador (1851-1856). Apesar das preocupa��es humanit�rias e progressistas, esta poesia manteve um fundo geral rom�ntico em que perduraram lugares comuns e tons f�nebres. O jornal portuense O Bardo (1852-1853) foi tamb�m ve�culo destas orienta��es actualizadas, que se reflectiram igualmente na poesia panflet�ria (Guilherme Braga, Mendes Leal), no drama de tese (de tem�tica social) e ainda numa novela de tema contempor�neo, j� pr�xima do realismo, reflexo das altera��es s�cio-econ�micas da �poca e da valoriza��o da classe burguesa, por vezes retrato natural e coloquial da ruralidade, que foi a obra de J�lio Dinis (Uma Fam�lia Inglesa, 1867; Os Fidalgos da Casa Mourisca, 1871). Na poesia, uma est�tica ligada � oralidade, � naturalidade e ao lirismo das coisas simples teve o seu cultor em Jo�o de Deus, poeta tamb�m j� afastado dos convencionalismos f�nebres da l�rica rom�ntica que se desenvolvia paralelamente.
A grande figura desta fase da Regenera��o foi Camilo Castelo Branco. Para al�m do seu papel como novelista e contista, retratando tipos e costumes regionais, celebrizando-se por uma intensidade passional que marcou definitivamente a sua imagem junto dos leitores, Camilo foi um grande polemista e satirizador, deixando uma obra vast�ssima que inclui Amor de Perdi��o, Novelas do Minho e Eus�bio Mac�rio.
A Gera��o de 70
Entretanto, uma gera��o formada em Coimbra entrara em contacto com as grandes quest�es europeias e apercebia-se da estagna��o do pa�s, social, pol�tica e culturalmente. Animados pelos ideais de pensadores como Proudhon, lan�aram a c�lebre Quest�o Coimbr� - resposta a uma acusa��o que lhes fora feita por Castilho, e que Antero de Quental (que publicara j� as suas Odes Modernas em 1865), transformou numa pol�mica fundamental na evolu��o da literatura da �poca. Na sequ�ncia desta pol�mica liter�ria estiveram as Confer�ncias Democr�ticas (1870) - ciclo em que os membros desse grupo coimbr�o, agora chamado �Grupo do Cen�culo�, que inclu�a Antero, Oliveira Martins, Ramalho Ortig�o, E�a de Queir�s, Guilherme de Azevedo e Guerra Junqueiro, pretendiam analisar o pa�s, propondo um plano de reforma social. As confer�ncias foram proibidas por serem consideradas subversivas. Uma delas, da responsabilidade de E�a de Queir�s, tinha por tema �O Realismo como Nova Express�o da Arte�; outra, de Antero de Quental, um dos seus textos mais c�lebres, intitulava-se �Causas da Decad�ncia dos Povos Peninsulares�.
Teoria e pr�tica do realismo
Em 1871, E�a de Queir�s e Ramalho Ortig�o publicaram As Farpas, edi��o mensal de coment�rio e s�tira aos acontecimentos seus contempor�neos. Num dos artigos ent�o publicados, E�a de Queir�s criticou a literatura do romantismo tardio, na sua aus�ncia de liga��o e de perspectiva cr�tica sobre a actualidade e os novos problemas com que se defrontava o homem. E�a, na sua obra doutrin�ria, condenou a teoria da arte pela arte. Ali�s, foi ele a figura da sua gera��o que mais plenamente p�s em pr�tica os conceitos do realismo, n�o s� na sua obra de folhetinista e polemista, como sobretudo no romance, de que foi o grande mestre, e em que pretendia retratar aspectos considerados caracter�sticos da sociedade portuguesa, nomeadamente da classe m�dia e dirigente (Os Maias, 1888). A sua obra representou, ainda, uma renova��o estil�stica fundamental na l�ngua e na literatura portuguesas.
Mas ainda em escritos iniciais, como as Prosas B�rbaras (1866-1867), se nota que as primeiras experi�ncias liter�rias deste autor, como de outros da sua gera��o, n�o repudiavam frontalmente o romantismo (ou, pelo menos, um certo romantismo - Garrett e Herculano n�o foram nunca desacreditados pelos realistas). Antero de Quental, principal mentor da gera��o e respons�vel pela primeira teoria do realismo portugu�s, revelou-se nos sonetos marcado ainda por uma vis�o rom�ntica e metaf�sica dos grandes conceitos e princ�pios filos�ficos que propugnava; Te�filo Braga, autor de uma c�lebre e, ainda hoje, interessante Hist�ria da Literatura Portuguesa, n�o se desprendeu tamb�m de uma perspectiva hist�rica afectada pelo romantismo. Mesmo em Os Maias, E�a de Queir�s recuperou uma certa trag�dia rom�ntica, e, noutros livros, abandonara j� algo do rigor realista em favor de incurs�es pelo fant�stico (A Rel�quia, 1887), ou at� pelos ambientes, j� finisseculares, algo decadentistas, que marcaram os �Vencidos da Vida� - os autores desta gera��o que tinham tentado concretizar o seu plano de moderniza��o do pa�s de acordo com as correntes europeias.
Literatura panflet�ria e doutrin�ria
Tal como o romantismo, este per�odo realista caracterizou-se por um intenso labor jornal�stico e pol�mico (iniciado, desde logo, com a Quest�o Coimbr�) que envolveu in�meros autores, correspondendo ao seu desejo de interven��o e promo��o do progresso nacional. Neste grupo se inseriam, para al�m dos j� mencionados, Ramalho Ortig�o, Guerra Junqueiro e Oliveira Martins (que formavam, com Antero e E�a, o chamado �Grupo dos Cinco�). Ramalho Ortig�o distinguiu-se como cronista, enquanto Oliveira Martins foi o grande teorizador hist�rico-pol�tico do grupo. A par da sua carreira p�blica e da actividade jornal�stica, escreveu obras como o Portugal Contempor�neo (1881), s�ntese hist�rica que analisa a evolu��o e situa��o do pa�s sob variadas perspectivas. Guerra Junqueiro foi o mais c�lebre poeta combativo de ent�o (A Morte de D. Jo�o, 1874; P�tria, 1896), vindo mais tarde a dar mostras de influ�ncias de outras correntes. Outro nome a reter � o de Guilherme de Azevedo, tamb�m poeta panflet�rio, marcado j� pelo decadentismo franc�s.
Outras tend�ncias e g�neros
A par desta corrente marcante da Gera��o de 70, outros autores desenvolveram obras e temas de sucesso. Uma literatura de inten��o moralista teve a sua grande representante em Maria Am�lia Vaz de Carvalho. Entre os escritores na esteira do realismo e do naturalismo de E�a de Queir�s encontra-se Fialho de Almeida. Por outro lado, a urbaniza��o e a proletariza��o crescentes originaram um g�nero - o conto r�stico - que procurava uma alternativa id�lica �s grandes cidades, e que se encontra presente em Trindade Coelho (Os Meus Amores, 1891).
No teatro, distinguiram-se Silva Pinto, Abel Botelho, Ramada Curto e Manuel Laranjeira, j� marcados por tend�ncias novas que iam surgindo.
O parnasianismo e as tend�ncias de fim de s�culo
A par da poesia panflet�ria e interventiva que caracterizou o realismo, frequentemente a ela associado, apesar dos pressupostos art�sticos, em rigor, opostos, chegou tamb�m a Portugal o parnasianismo, originariamente franc�s. Esta teoria da arte pela arte, do culto da musicalidade e do trabalho escult�rico da l�ngua, de forma serena, opunha-se basicamente ao romantismo humanit�rio. Chegado tardiamente a Portugal, mesclou-se, assim como as tend�ncias decadentistas e simbolistas, em alguns poetas. Gomes Leal, Gon�alves Crespo e Ant�nio Feij� reflectem esse parnasianismo, o primeiro destes abrindo j� caminho a uma fase simbolista, que afectou igualmente Guerra Junqueiro. A crise europeia de fim-de-s�culo, o fracasso da ideologia progressista, a proletariza��o e o imagin�rio da atmosfera l�gubre das cidades modernas, de inspira��o baudelairiana, est�o associados, por sua vez, ao surto de decadentismo, not�rio em Guilherme de Azevedo. D. Jo�o de Castro (Alma P�stuma, 1891) e Eug�nio de Castro (Oaristos, 1890) foram os grandes representantes duma vertente simbolista e decadentista, ligada a um esteticismo e a um pessimismo da exist�ncia com que se conjugava um certo culto do poeta como ser � parte. A revista A Arte foi o �rg�o deste movimento simbolista. O grande poeta desta corrente (publicado apenas em 1922) foi Camilo Pessanha, com o volume Clepsidra, que primou no trabalho, tipicamente simbolista, da musicalidade da l�ngua e da surpresa das imagens inesperadas.Ces�rio Verde � um nome associado tamb�m ao realismo e ao parnasianismo, pelo seu trabalho em verso. Editado apenas em 1901 (O Livro de Ces�rio Verde), foi dos poetas que mais contribu�ram para o arejamento e a renova��o dos recursos e da linguagem tradicionais da l�rica portuguesa.
Tend�ncias neo-rom�nticas
Neste per�odo de conflu�ncia de v�rias tend�ncias europeias, indestrin��veis em muitos casos, reviveram tamb�m correntes de origem nacional - um chamado neo-romantismo - que se prolongaram no s�culo XX. Um dos acontecimentos mais importantes no seu desenvolvimento foi o ultimato ingl�s (1890), que originou uma onda de literatura nacionalista (caracter�stica em Guerra Junqueiro) associada � sobreviv�ncia de aspectos de tradi��o rom�ntica, como um historicismo que impregna as obras de Lopes de Mendon�a, D. Jo�o da C�mara, J�lio Dantas ou Jaime Cortes�o. Desenvolveu-se uma linha regionalista, ligada a aspectos folcl�ricos e pitorescos, de que foi exemplo Ant�nio Nobre, tamb�m ligado ao simbolismo e ao decadentismo, e que em S� (1892) teve a sua obra mais c�lebre. Os seus textos s�o exemplo de um amor aos simples, reflexo da frustra��o da vida nos grandes centros, e de um desejo de recuperar para�sos perdidos, procedendo ao mesmo tempo a um afastamento imaginativo dos tradicionais recursos estil�sticos da l�rica portuguesa. Afonso Lopes Vieira esteve ligado a este folclorismo lusitanista, tamb�m presente em Trindade Coelho e em Ant�nio Patr�cio (D. Jo�o e a M�scara, 1924), Augusto Gil (Luar de Janeiro, 1910) e Fialho de Almeida (Os Gatos, 1889-1894).
Ao mesmo tempo, desenvolveu-se uma corrente - o saudosismo - que, com base no sentimento da decad�ncia da p�tria, deu largas a uma vis�o metaf�sica, pante�sta, que encontrava no conceito da saudade (tema t�pico da l�rica portuguesa) a ess�ncia espiritual do povo portugu�s. O seu principal doutrin�rio e cultor foi Teixeira de Pascoaes (Mar�nus, 1911; Elegia do Amor, 1924), que congregou um conjunto de outros intelectuais portugueses (Jaime Cortes�o, Leonardo Coimbra, Afonso Duarte) em torno do movimento portuense da �Renascen�a Portuguesa�, cujo �rg�o foi a revista �A �guia� (1910-1930).
Figura destacada deste per�odo, em quem confluem v�rias tend�ncias finisseculares a que se associava uma an�lise e uma simpatia comovidas perante os simples e explorados (Os Pescadores, 1923; O Pobre de Pedir, 1933) � Raul Brand�o, precursor de v�rias tend�ncias posteriores e que d� mostras de um certo expressionismo (que n�o se afirmou nunca na literatura portuguesa).
A Seara Nova
Entretanto, um novo grupo, constitu�do parcialmente por antigos colaboradores de A �guia, juntou-se para editar a revista Seara Nova (1921), que pretendia marcar uma interven��o efectiva na vida portuguesa que o saudosismo n�o conseguia levar a cabo. Desta gera��o, que se imp�s j� durante a 1a Rep�blica, destacam-se o ensa�sta Ant�nio S�rgio, que se dedicou a temas de hist�ria, sociologia e literatura portuguesas, Jaime Cortes�o, vindo da Renascen�a Portuguesa, cujo trabalho de historiador foi fundamental no s�culo XX, Raul Brand�o, Raul Proen�a, Manuel Teixeira Gomes (escritor, diplomata e presidente da Rep�blica) e Aquilino Ribeiro.
Este �ltimo, um dos grandes prosadores da primeira metade do s�culo, reflectiu nos conflitos e for�as da natureza as pr�prias dores humanas, marcando uma literatura de cunho regionalista de que sobressaem O Malhadinhas (1922) e Terras do Demo (1918).
A literatura feminina.
Figura isolada, que evoca algo do parnasianismo e do esteticismo de fim-de-s�culo, foi Florbela Espanca, poetisa de intensidade passional e express�o sensual feminina que vieram a ser fundamentais na afirma��o de uma literatura que viria a impor-se progressivamente - a literatura feita por mulheres -, avultando os nomes de Ana de Castro Os�rio, Fernanda de Castro, Judite Teixeira e Maria Lamas, entre outras.
O grupo do Orpheu
A publica��o, em 1915, da revista liter�ria Orpheu constituiu o irromper, em Portugal, das correntes modernistas europeias, como o futurismo, trazidas por uma gera��o cosmopolita que pretendia sacudir o pa�s do marasmo intelectual. Alvo da tro�a geral, tomados pela burguesia dominante como loucos, os principais membros do grupo foram Fernando Pessoa, M�rio de S�-Carneiro e Almada Negreiros. A inten��o provocat�ria encontrou os seus momentos mais violentos neste �ltimo, autor de um �Manifesto Anti-Dantas� (1915, dirigido ao escritor J�lio Dantas), e de outros textos igualmente irreverentes; Almada Negreiros foi o artista mais multifacetado do grupo. J� S�-Carneiro, assim como o Pesssoa ort�nimo, tinham ainda marcas de tend�ncias finisseculares - aprofundando o primeiro dramas de personalidade e recorrendo simultaneamente a processos estil�sticos revolucion�rios pr�prios do futurismo (Apoteose). Pessoa foi, indubitavelmente, a figura mais universal da literatura portuguesa do s�culo XX. Tanto quanto a sua poesia, a dramatiza��o dos heter�nimos, que a estruturam, celebrizou-o, marcando cada um uma atitude espec�fica e uma problematiza��o caracter�stica de aspectos de mundivid�ncia da �poca: o horacianismo intelectual de Ricardo Reis, o naturalismo anti-metaf�sico de Alberto Caeiro, a histeria da civiliza��o tecnol�gica de �lvaro Campos. Por outro lado, a obra de Pessoa ort�nimo desmontou o sentimentalismo tradicional da l�rica portuguesa; simultaneamente, em Mensagem (1934), poema �pico sebastianista e prof�tico, recuperou a corrente mitog�nica do Quinto Imp�rio portugu�s.
A Presen�a
Foi necess�rio o surgimento de uma nova gera��o modernista, ligada � revista Presen�a (1927-1940) para impor a gera��o de Orpheu que, apesar da revolu��o levada a cabo, n�o desfez a hegemonia de tend�ncias anteriores, cada vez mais academizadas. Os escritores presencistas insurgiram-se precisamente contra este marasmo, reivindicando uma �literatura viva� (segundo express�o de Jos� R�gio), associada a uma atitude cr�tica e receptiva �s correntes modernas em todas as manifesta��es art�sticas e a uma afirma��o da individualidade do artista em detrimento do peso do colectivo - aspectos traduzidos num afastamento em rela��o a doutrinas de interven��o directa da arte na sociedade. Ao grupo pertenceram R�gio, Saul Dias, Casais Monteiro, Gaspar Sim�es, Branquinho da Fonseca e Miguel Torga (afastando-se os dois �ltimos posteriormente da revista). A Presen�a marcou uma actividade doutrin�ria e ensa�stica intensa; na cria��o art�stica propriamente dita, imp�s-se a l�rica de R�gio (Poemas de Deus e do Diabo, 1925), de Miguel Torga (poemas de Di�rio e v�rios outros volumes) e de Adolfo Casais Monteiro (Noite Aberta aos Quatro Ventos).
Na prosa, R�gio teve um papel importante com O Pr�ncipe com Orelhas de Burro (1942) e a s�rie A Velha Casa; Branquinho da Fonseca deixou a not�vel novela O Bar�o (1942) e Miguel Torga veio a ser a grande figura do conto, com Bichos(1940) e Contos da Montanha (1941). O mesmo Torga afirmou-se, de forma geral, como uma das figuras mais significativas da literatura portuguesa recente, deixando uma obra vasta e pessoal�ssima, profundamente marcada pelas suas origens r�sticas e pela for�a dos s�mbolos b�blicos e agr�rios, aliados a um vigor e a uma musicalidade da poesia e da prosa not�veis.
Deixou v�rios volumes de um Di�rio, a fic��o autobiogr�fica A Cria��o do Mundo (iniciada em 1937) e uma obra de impress�es de viagem intitulada Portugal (1950), entre muitos outros volumes.
� margem da Presen�a, embora n�o se lhe opondo de forma alguma, s�o de referir tr�s nomes importantes da literatura deste per�odo. Irene Lisboa (Solid�o, 1939; T�tulo Qualquer Serve, 1959), louvada pela cr�tica mas ignorada pelo p�blico, uma das vozes mais singulares da moderna literatura portuguesa; Vitorino Nem�sio, director da Revista de Portugal (1937-1940), poeta, cronista e romancista not�vel (Mau Tempo no Canal, 1945), fortemente marcado pela sua origem insular, e, finalmente, Jos� Rodrigues Migu�is, contista e novelista (L�ah, 1959; Gente de Terceira Classe, 1962) com uma profunda capacidade de an�lise psicol�gica.
O movimento neo-realista
O neo-realismo, se denota a sobreviv�ncia do realismo e do naturalismo oitocentistas, constitui uma evolu��o determinante: os novos conflitos sociais, a dinamiza��o do operariado e a influ�ncia de movimentos cong�neres europeus levaram a um despertar do interesse pelas camadas desfavorecidas (nomeadamente rurais) e a uma inten��o de interven��o social que seria fun��o da literatura - a responsabiliza��o do intelectual perante o processo hist�rico e a humanidade e que ia para al�m das inten��es da Presen�a. O precursor deste movimento, que teve as suas primeiras manifesta��es doutrin�rias nos anos 30, em revistas como a Presen�a, foi Ferreira de Castro (Emigrantes, 1928; A Selva, 1930), que toma j� por tema certas classes desfavorecidas e exploradas, denunciando as mis�rias da sua vida.
Os primeiros autores j� plenamente dentro do movimento foram Manuel da Fonseca (Rosa dos Ventos, 1940), Soeiro Pereira Gomes (Esteiros, 1941) e Alves Redol (Gaib�us, 1940). O romance foi o meio, por excel�ncia, de exposi��o dos conflitos sociais. Outros escritores que, mesmo se evoluindo em direc��es diversas, estiveram ligados ao movimento, foram Fernando Namora (A Noite e a Madrugada, 1950; Retalhos da Vida de um M�dico, 1949), Carlos de Oliveira (Uma Abelha na Chuva, 1953), em certa medida, Jos� Gomes Ferreira (Aventuras de Jo�o Sem Medo, 1963), Jos� Cardoso Pires (Os Caminheiros e Outros Contos, 1949) e Verg�lio Ferreira (Manh� Submersa, 1955), que se afastaria do movimento e viria mesmo a opor-se-lhe. O neo-realismo teve como �rg�o a revista V�rtice, de longevidade invulgar. Quanto � l�rica, foi editado um Novo Cancioneiro (1941), obra colectiva que inclu�a nomes como Joaquim Namorado, Jo�o Jos� Cochofel e M�rio Dion�sio, para al�m de outros j� referidos na fic��o. O neo-realismo prolongou-se, sob formas por vezes atenuadas ou tangenciais, em reformula��es dos seus princ�pios, por vezes confluindo com outras tend�ncias, em muitos escritores portugueses posteriores.
Movimentos alternativos ao neo-realismo
Nos anos 40, alguns movimentos de vanguarda afirmaram-se � margem dos princ�pios neo-realistas, nomeadamente na poesia, estando frequentemente ligados a revistas de dura��o mais ou menos breve, que permitiam contornar, de alguma forma, as dificuldades de edi��o, complicada devido � censura pol�tica. Os Cadernos de Poesia foram uma delas (1a s�rie 1940-1942), congregando diversas tend�ncias e contando com a colabora��o de Rui Cinatti (N�s N�o Somos Deste Mundo, 1941), Jorge de Sena (Persegui��o, 1942), Eug�nio de Andrade (As M�os e os Frutos, 1948) e Sophia de Mello Breyner Andresen (Livro Sexto, 1962). Os dois �ltimos tornaram-se das vozes mais significativas da poesia portuguesa da segunda metade do s�culo: Eug�nio de Andrade, num estilo denso e depurado, de grande carga sensual; Sophia de Mello Breyner, tamb�m contista e autora de literatura infantil, num rigor e limpidez exemplares, a que se associam preocupa��es �ticas.
Outras revistas representativas foram a T�vola Redonda (1950-54), a �rvore (1951-1953), B�zio (1956), e Hidra (1966). De entre as v�rias tend�ncias que marcaram a literatura portuguesa mais recente, algumas s�o de destacar.
O surrealismo, tardio, teve o seu iniciador em Ant�nio Pedro, e cultores em M�rio Cesariny de Vasconcelos, Alexandre O'Neill, Jos� Augusto Fran�a, e, sob a forma de certas afinidades, integradas ou superadas, Jorge de Sena, Ruben A. e Nat�lia Correia. Uma tend�ncia metaf�sica teve o representante m�ximo em Ruy Belo (Aquele Grande Rio Eufrates, 1961). Claramente opostos ao neo-realismo, e procurando sobretudo explorar o dom da palavra como revela��o do mundo, e n�o como representa��o da realidade, estiveram David Mour�o-Ferreira e Fernanda Botelho, entre outros. Uma corrente existencialista afirmou-se em autores como Urbano Tavares Rodrigues e Verg�lio Ferreira. Este �ltimo viria a ser um dos grandes romancistas do s�culo XX portugu�s, fixando-se aos temas da morte e do sentido da vida humana numa obra em que avultam Apari��o (1959) e Para Sempre (1983), entre muitos outros t�tulos.
Alguns nomes merecem considera��o � parte, pela dificuldade, maior ainda que nos outros casos, de lig�-los a uma corrente espec�fica. S�o eles Ant�nio Gede�o, cuja poesia ro�a a como��o neo-realista face ao sofrimento alheio; Sebasti�o da Gama, que recupera muito da tradi��o l�rica banida pelos modernismos; e Ant�nio Ramos Rosa, um dos grandes nomes da poesia portuguesa actual (Viagem atrav�s duma Nebulosa, 1961), em certos textos ligado ao experimentalismo.
A poesia experimental
O primeiro �rg�o da poesia experimental portuguesa foi a publica��o Poesia 61. Em torno do movimento congregavam-se nomes como Ernesto de Melo e Castro, Luiza Neto Jorge, Fiama Hasse Pais Brand�o, Ana Hatherly, Salette Tavares e Herberto H�lder, poeta que veio a ser dos mais originais e deslumbrantes criadores da actualidade. Poesia Experimental (1964 e 1966) esteve tamb�m ligada �s vanguardas e ao concretismo; de um modo geral, e ap�s todos os �ismos� que marcaram a literatura, estas novas tend�ncias procuravam sobretudo questionar a linguagem, interrogando-se e desconstruindo o pr�prio processo de constru��o liter�ria.
O teatro do p�s-guerra
A primeira metade do s�culo ficara ainda marcada por um certo historicismo rom�ntico; j� no p�s-guerra, o teatro sofreu um impulso com o surgimento de grupos amadores e experimentais (por exemplo, o Teatro Experimental do Porto, 1953) que permitiram implant�-lo fora de Lisboa e explorar as possibilidades de correntes liter�rias � margem das tradicionais. Muitos dos autores n�o eram exclusivamente dramaturgos (Jos� R�gio, Jorge de Sena, Nat�lia Correia, Jos� Cardoso Pires). Entre os nomes mais destacados encontram-se Alfredo Cort�s, Ramada Curto, Lu�s Francisco Rebello, Romeu Correia, Lu�s de Sttau Monteiro e Bernardo Santareno. Os dois �ltimos, por exemplo em Felizmente h� Luar! (1961) e O Judeu (1966), respectivamente, procuraram recriar o teatro �pico de Brecht, num momento pol�tico em que sentiam ser urgente o despertar das consci�ncias do p�blico para a necessidade de transforma��o do mundo. A situa��o pol�tica, naturalmente, dificultou muito a representa��o destas pe�as.
A moderna fic��o narrativa
Muitos dos nomes referidos anteriormente a prop�sito de v�rios movimentos liter�rios vieram a desenvolver uma significativa obra de fic��o, evoluindo por vezes em sentidos diversos dos iniciais. Dos nomes surgidos h� mais tempo, s�o de destacar Manuel Ferreira (inicialmente ligado ao neo-realismo e nome importante na difus�o, em Portugal, das literaturas africanas), Augusto Abelaira (A Cidade das Flores, 1959), Al�ada Baptista (ligado � revista O Tempo e o Modo, numa linha de reflex�o crist� sobre a exist�ncia), Maria Judite de Carvalho (Paisagem sem Barcos, 1963), e Agustina Bessa-Lu�s. Esta �ltima � um dos nomes fundamentais da moderna fic��o portuguesa, de escrita e imagina��o fulgurantes (A Sibila, 1958; Contos Impopulares, 1950-1953). De interesse foi tamb�m a publica��o em 1971, das Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, cuja den�ncia desassombrada da tradi��o moral da mulher portuguesa levou as autoras a tribunal. De referir ainda, entre muitos outros, Lu�sa Dacosta, M�rio Cl�udio, Nuno Bragan�a, Baptista Bastos, Almeida Faria (revela��o fulgurante com Rumor Branco, 1962), Jos� Saramago (um dos mais c�lebres escritores portugueses actuais, destacando-se, entre as suas obras, o not�vel Memorial do Convento, 1982). Surgidos nas �ltimas duas d�cadas, e revelando um trabalho de reflex�o sobre a recente hist�ria portuguesa, destacam-se L�dia Jorge (O Dia dos Prod�gios, 1980, entre outras obras) e Jos� Lobo Antunes (Fado Alexandrino, 1983, entre outras obras).poesia de interven��o e contesta��o
Entretanto, o 25 de Abril de 1974 veio dar azo a uma poesia de interven��o que, geralmente sob a forma de textos cantados (dos chamados cantores poetas), procurava uma aproxima��o �s massas, e de que o autor mais c�lebre foi Jos� Carlos Ary dos Santos.
Da mesma �poca data uma contesta��o mais marcada ainda, dirigida tanto � cultura dominante, tradicional, como � cultura de massas, que se opunha � passividade do leitor e ao estaticismo da cria��o art�stica. Desmantelamento da ordem art�stica que era tamb�m subvers�o da sociedade e das suas regras, foi representada por publica��es de car�cter mais ou menos marginal, como & Etc. (1973) e Fenda (1984).
A imprensa liter�ria
Algumas revistas e jornais t�m desempenhado um papel importante na dinamiza��o da vida liter�ria e cultural do pa�s. Em 1980 surgiu a Nova Renascen�a, publica��o que privilegiou a reflex�o sobre os temas da actualidade e o papel e significado de Portugal, � luz da sua hist�ria no mundo; a ela estiveram ligados os nomes de Jos� Augusto Seabra e Agostinho da Silva, entre outros. Importante tamb�m a Col�quio/Letras, da Funda��o Calouste Gulbenkian, surgida em 1959.
Em 1981 come�ou a ser publicado o Jornal de Letras; anterior � o Jornal de Letras e Artes, mais abrangente. Finalmente, em 1987 surgiu a revista Ler, uma das mais bem sucedidas da actualidade. O desejo de descobrir novos valores e permitir �s gera��es mais jovens algumas tentativas liter�rias encontrou resposta em suplementos de jornais, como o �DN Jovem�.
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